A ansiedade e suas implicações.

Os consultórios “psis” e atendimentos psiquiátricos não cessam de receber pessoas em sofrimento psíquico considerável, causado pela a ansiedade. Porém qual é a diferença entre estar ansioso e sofrer de ansiedade, como um problema de saúde mental?

ansiedade

Antes de qualquer coisa, precisamos entender que uma grande parte da população têm sintomas de ansiedade. Todavia, nesse artigo, queremos discutir e distinguir como a presença desses sintomas ansiosos na maior parte das vezes podem, ou não, ser característica de uma síndrome, ou seja, no campo de uma psicopatologia. Para tentar adentrar um pouco mais nessa compreensão, é importante pensarmos no mundo em que vivemos: como é a sua rotina? Como você lida com o seu tempo? Quais são as suas expectativas? Como você busca realizar seus sonhos? Como e por quem você se sente cobrado?

Diante de tais perguntas, consideramos que um agente estressor (falta de emprego, ameaça de morte, separação, luto ou coisas desse tipo) pode causar os seguintes sintomas: angústia, humor deprimido, evitação do contato social no trabalho, comprometer a convivência com os amigos e outros. Todavia, até que ponto essas reações são “normais”?  Para uma maior precisão de quadro de saúde mental, precisamos considerar o tempo e duração desses sentimentos e sensações. O prolongamento dessas sensações e a intensidade desses sentimentos, nos dão um alerta! Pois é preciso evitar um agravamento disso tudo, em que uma ansiedade crônica se transforma em outro quadro: a síndrome do pânico.

O medo, o estresse e a reação à ansiedade:

Desse modo, estar atento e cuidadoso aos próprios sinais de ansiedade é fundamental para estar emocionalmente saudável!  Até aqui, sabemos que o estresse (principalmente do dia a dia) exige de nós uma resposta, ou seja, uma ação rápida! Pois onde há incômodo, há sinal de uma necessária mudança! É preciso movimento! Assim, os agentes estressores também se relacionam com medo. E por falar em medo, você tem medo de quê ou de quem? Para continuar esse assunto, aqui consideramos o medo como um sinal de uma ameaça e principal mola propulsona da mudança. Segundo COMER (2003), “o medo é na verdade um conjunto de reações – físicas, emocionais e cognitivas. Fisicamente, transpiramos, a respiração acelera, os músculos ficam tensos e o coração bate mais rápido. Empalidecer, ficar arrepiado e sentir náuseas são reações físicas. As reações emocionais a ameaças extremas incluem horror, pavor e até mesmo pânico” (p.88).

O sistema Nervoso Autônomo (SNA) é responsável por nossas ações de medo. Assim, quando o nosso cérebro recebe a mensagem de um agente estressor são as fibras nervosas desse sistema, que irão produzir o aceleramento das pulsações cardíacas, e assim temos a sensação conhecida como ansiedade. Por isso é importante pensar no medo não apenas com uma conotação “negativa”, mas também como um dispositivo que nos prepara para “lutar ou fugir” de uma determinada situação de perigo, ou de um risco iminente. Por isso podemos dizer que, o medo capacita o nosso corpo para reagir com segurança em qualquer tipo de situação. E vale salientar que existe um grupo de hormônios específicos, que são processados pelas glândulas supra-renais (no alto dos rins), chamados de corticosteróides.

Por fim,  quando o nível de ansiedade está elevado, há também um aumento dos níveis de corticosteroídes, inclusive do cortisol! Acima há uma figura esquemática sobre o funcionamento do Sistema Nervoso Autônomo e como essas duas atividades (simpática e parassimpática) são responsáveis pela a ativação e inibição dos efeitos de excitação e relaxamento dos nossos corpos. Ressalta-se também que essas atividades (divisão “simpática” do SNA) se relacionam com as sensações que sentimos diante do medo e do estresse, pois quando há um aumento da adrenalina, também acontece o aumento da ansiedade.

Sinais de ansiedade:

  1. aceleração dos batimentos cardíacos;
  2. respiração mais acelerada, ofegante;
  3.  medo irracional, sensação de pavor;
  4. transpiração excessiva/sudorese;
  5.  tensão da musculatura;
  6. nervos à flor da pele;
  7. dificuldade de concentração;
  8. problemas de sono como insônia ou sono insuficiente;

Desta maneira queremos fazer uma reflexão que, sintomaticamente o mundo anda mais ansioso e acelerado! Já percebeu como parece que, ao passo que temos feito muitas coisas (e postamos todos esses registros nas redes sociais), parece também que o tempo passou rápido demais e a nossa produtividade não foi suficiente? Uma das coisas que pode nos causar essa impressão, é o falso “espelhamento” das realizações dos outros, ou seja, quando “a grama do vizinho é mais verde” que a nossa! Então, é preciso estar atento se a sua ansiedade não vem desse tipo de “competição”. No nosso tempo as redes sociais, de alguma forma, impulsionam esses sentimentos pois as pessoas compartilham suas vidas, mas principalmente suas vitórias, conquistas, vida afetiva bem sucedia, viagens, momento de lazer e diversão… Entretanto há algo errado aí! A vida não é só prazer e não existe essa satisfação  sem limites, pois nem tudo é diversão e o saldo 100% positivo! Pois nem sempre as coisas da vida dão certo, não é mesmo?!

A ansiedade e a sociedade “Hipermoderna”:

A verdade é que ninguém quer compartilhar suas derrotas, fracassos e sofrimentos…O que até faz sentido, mas é preciso vivenciar o mundo com um certo “filtro” e com muito equilíbrio!  Há muito conteúdo circulando por aí e podemos acessar tudo isso em um clique! Há muita exposição nas redes sociais, nossa atividade acadêmica “precisa” estar abastada no lattes, precisamos ser hiperprodutivos em nossos serviços…Acumulamos cargos, empregos e carga horária! E estamos fazendo muitas coisas, mas ainda estamos faltosos, por quê e de quê? Até onde vai essa necessidade de acumular objetos do desejo?

Sendo assim, quando falamos da nossa sociedade nos remetemos aos filósofos e pensadores que falam da Hipermodernidade. Em outras palavras, esse termo indica o tempo que vivemos, em que há uma cultura do excesso!Já reparou como estamos esgotados? Parece que estamos tentando preencher a todo custo todas as nossas falhas, nossas faltas! Como provar que somos “hiper” eficientes? Há algo nessa cultura hipermoderna que nos escapa, há um vazio que não é passível de suplência ou complementação! E assim fazemos o movimento reverso: acumulamos mais coisas, postamos mais nas redes sociais, estudamos mais e estamos sempre fazendo mais, mas o sentimento é que o vazio só cresce e que tudo que temos e fizemos, é de menos

Por bem, retomemos Freud (1930) em “O Mal -estar na Civilização”, que aponta para a inatingível felicidade. Ele indica que a felicidade do homem  é uma coisa muito difícil de ser alcançada, mas por outro lado, ele diz também que: “É bem menos difícil experimentar a infelicidade. O sofrer nos ameça a partir de três lados: do próprio corpo, que fadado ao declínio e à dissolução, não pode sequer dispensar a dor e o medo, como sinais de advertência: do mundo externo, que pode se abater sobre nós com forças poderosíssimas, inexoráveis, destruidoras: e, por fim, das relações com os outros seres humanos” (p. 31).  Assim o pai da psicanálise deixa explícito que a possibilidade da morte, o próprio envelhecimento do corpo humano e o desencontro nas relações com os outros,  também podem ser agentes para o sofrimento psíquico! Além do mais, devemos considerar que conviver com os outros aumenta os níveis da nossa adrenalina, excitação e também a nossa ansiedade?

Conclusão

Pois bem, essas questões estão dispostas aqui para refletimos um pouco! Ao levar em consideração que podemos ter as nossas vidas prejudicadas, tentando corresponder a um padrão que é ideal, não é nosso, mas que pertence aos outros! No fundo no fundo, não é difícil perceber que alguns padrões sociais estão bem distantes da vida real e do real da vida! Por isso é importante considerar que a ansiedade pode ser uma psicopatologia sim, ou melhor, um problema de saúde mental! Porém, é preciso investigar como a ansiedade começou… Não que ela vá desaparecer por completo, mas talvez possamos lidar com ela de uma melhor maneira possível. Pois necessariamente quando a ansiedade nos paralisa, isso é um sinal que ela precisará ser tratada por profissionais da saúde mental (psicólogo e médico psiquiatra).

Ao ler esse artigo, você consegue identificar  algo com você? Como é a sua ansiedade? Quando você se sente ansioso (a)? Você já teve crise de pânico, com palpitações intensas que pareceu ser um ataque cardíaco? Quando sente ansiedade (a), fica com a boca seca ou transpirando muito?

Deixamos aqui essas perguntas e algumas reflexões. Além disso, uma última sugestão: se a sua ansiedade te afetar ao ponto de te impedir  de ter boas relações sociais e uma vida satisfatória, busque ajuda profissional  e não se automedique!

 

REFERÊNCIAS

COMER, J. R. Transtornos de Ansiedade Generalizada e Fobias. In: Psicologia do Comportamento Especial, 4ª ed, LTC,  Rio de Janeiro, 2003, p. 86-111.

DALI, S. Um Diabo lógico, a obra Canto XXVII. In: A Divina comédia por Salvador Dali, 1951 . Disponível em: http://www.achabrasilia.com/dali/ .  Acesso em 31 de janeiro de 2020.

DALI, S.  A Persistência da memória, 1931. Disponível em: https://www.culturagenial.com/a-persistencia-da-memoria-de-salvador-dali/. Acesso em 31 de janeiro de 2020.

FREUD, S. (1930) O Mal-Estar na Civilização. Trad. Paulo César de Souza. In: Obras completas de Sigmund Freud, São Paulo: Cia. das Letras, 2010.

MAGRITTE, R. O filho do homem, 1946. Disponível em: http://www.arteeblog.com/2016/06/a-historia-de-o-filho-do-homem-de-rene.html . Acesso em 31 de janeiro de 2020.

SANTOS, V. S. “Sistema nervoso”Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/biologia/sistema-nervoso.htm. Acesso em 31 de janeiro de 2020.

luisa psicologa

 

Sobre a autora desse artigo:

Luísa N.N.C. Fróes, é psicóloga (2006) e musicoterapeuta (2013), especialista em Filosofia e Psicanálise (2019), pela Universidade Federal do Espírito Santo. Atualmente exerce ambas profissões em Vitória, Espírito Santo, Brasil.

Atenciosamente,

Almy Dias FróesGoogle®  Analytics & Adwords Certified ProfessionalEmail/Skype:[email protected]

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